quinta-feira, 16 de abril de 2020

Quarenta

Ao som de Light Years - The National 

Hoje eu olhei pela janela e chorei.
O sol brilha lá fora enquanto o mundo escurece, a vida não segue, a sombra assusta.
Eu vi todos os meus planos se desfazerem enquanto eu adormecia e acordava num eterno domingo
Eu me sinto tão perto e a anos luz de distância de todos os que eu amo, oceanos de tristeza e tormenta que eu me afogo cada vez que a saudade aperta.
Eu queria poder abraçar aqueles que estão perdendo entes queridos, chorar junto e dizer que entendo. Por alguns minutos ver que não é real, pegar um avião e dizer que sim, enfrentaria o mundo a distância e o que fosse só pra te ter por perto.
Eu descobri que todos os planos que eu tinha ficaram tão bobos
Aos meus amigos, perdão por todas as visitas que deixei pra depois, a minha família que eu deveria ter beijado e abraçado mais, as saídas que recusei eu deveria ter ido e virado a noite só pra me arrepender depois.
Eu quero ver meu time jogar
Eu quero morrer e viver de amor
Eu quero rir com meus amigos
Eu quero dormir no colo da minha mãe
Eu quero pegar minhas crianças no colo
Eu quero muita coisa

E descobri que não te quero mais também. Já eram dias, meses em que a vida seguiu. Doeu e muito, foram noites mal dormidas pensando o que eu tinha feito de errado, e o pior, sem chorar, porque você bem sabe que quanto pior eu fico, menos eu consigo externar. Foram noites regadas de agonia e ansiedade, esperando uma mensagem, um fim, um recomeço, e ele nunca chegou.
Ou não chegaria até uns dias atrás, quando a notificação inusitada apareceu.
Um misto de confusão, talvez um esboço de sorriso, e finalmente a indiferença.
Você se foi e eu sabia, e nem precisava te dizer
Escolhi deixar o silêncio falar por mim
E pela primeira vez nesses dias eu sorri.

quinta-feira, 26 de março de 2020

smile sunshine

Seguindo seus passos lá estava eu 
Por um caminho tortuoso e estranho, era você.
Eu te odiava a maioria dos dias, mas era difícil te odiar vendo o sol bater no seu rosto descendo sorrindo na minha direção
E mesmo assim ainda existia um oceano entre nós.. 
E eu também nunca vou conseguir explicar o fato de não haver um nós, ou de criarmos ele durante algumas noites, nos filmes que vemos, no abraço contido durante o sono, nós pés se encontrando no frio do inverno, nas discussões que você sempre tem razão, na dança das quatro paredes.
Mas como eu disse, o nós não existe.
Ele não existe nos dias que as palavras não se encontram, ele não existe no medo, no orgulho, nas decisões. Ele não existe por nossa culpa e assim seguimos.


domingo, 8 de março de 2020

The funeral

Eu falsamente dizia que não importava o que acontecesse estaria preparada pro fim, um dia o funeral chega, mas eu já me colocava de luto antes mesmo do nascimento. Era o que eu costumava dizer, era o que eu queria que fosse.
Dentre as muitas portas que fechei, nem todas eu tranquei, uma gota de esperança segurava aqueles locais de girar a chave e jogar ela fora, no fundo eu relutava, mas acreditava no que todos diziam "não se feche", "não desista", e só eu sabia o quanto doía ter que colocar forças nisso e parecer bem e sorrir enquanto eu não fazia ideia de quantas partes meu coração tinha se partido.
O mundo não parou pra eu juntar meus pedaços, nem eu parei, eu fui pegando o que dava no meio do caminho, foi duro, foi luto, foram dezenas de funerais de coisas boas e ruins, cada pedaço juntado era uma lembrança enterrada pra ficar no passado. Demorou, doeu e passou.
E aí eu declarei que estaria sempre pronta pro pior, pro fim. Eu queria que tivesse sido assim.
Mas eu deixei a porta aberta, e teve quem insistisse pra ver como era por dentro.
Entrou, sorriu, fechou a porta e achou por bem redecorar com o tem destruição.
Saiu levando o que achou de bom, saiu me deixando sem saber por onde iria recomeçar mais uma vez.
Saiu deixando a unica certeza de que aquele seria o último funeral. A ultima vez que a porta se abriu.
A porta nunca mais iria se abrir e ninguém saberia que levaram o melhor de mim, já era doloroso o bastante conviver com o vazio de não ter esperança, de todos que entraram e nunca ficaram.
Acabou, eu arrumei, sentei e olhei e tranquei a porta pela ultima vez.