domingo, 10 de março de 2019

Carnavalia

Eu fui pra avenida com meu bloco tristeza e pé no chão. Penas na cabeça e o sorriso no rosto de quem não espera nada, na verdade quem eu espero fez meu coração esfriar há tanto tempo que já nem lembro. Mas quem diria que por algumas horas de uma segunda a noite ele despertaria. No desfile do meu bloco você não foi, no bar que você estava eu faltei, mas nem isso impediu meu olhar de encontrar o seu numa esquina escura da cidade que não dorme. Eu já recolhida à minha diversão pura e infantil, negando olhares e beijos esperando alguém que nunca fica, eu que já nem sabia o que era isso, no impulso inocente te dei o meu melhor sorriso, e tua história (ah tu deves ter), também não impediu de retribuir. Numa noite já findada, as cordas do destino uniram dois estranhos numa calçada qualquer da Augusta, o coração dispara, eu estava viva e agora tinha certeza. Tive certeza quando teus lábios encostaram nos meus me fazendo tremer, aquele toque quente e indigente que meu corpo precisava pra ressuscitar, tu que anestesias de repente me fez sentir viva, engraçado não?
A cuíca gemeu quando teus dedos entrelaçaram os meus e subimos a rua encenando um belo amor de carnaval, a nossa escola desfilou uma única vez, a batucada se aproximou quando trocamos nomes, números, gostos, beijos e abraços. A despedida no semáforo, a ansiedade, o doce sabor da vida correndo por cada célula minha que desejou mais que uma subida na avenida, uma leve tristeza que passou quando eu vi que era apenas a parada da bateria. E logo na mesma rua, horas, conversas, garrafas vazias e uma pontada de decepção adiante, logo lá, de novo lá, você reaparece na minha ala pra poder fazer história. Sentia a batucada se aproximar a cada passo que davamos noite a dentro, quatro paredes a dentro, e eu que nunca tinha te visto já sabia que estavas ensaiado para me tocar. Não escandalizamos ninguém, uma comemoração só nossa, duas pessoas se encontrando e se descobrindo, se namorando por algumas horas, se deixando levar nem que fosse só por uma noite. Desfilamos a vida e carnavalizamos, nos sentimos vivos em cada toque, em cada beijo, no mais belo encontro de corpos que a noite poderia ter destinado à esses dois estranhos, mestre-sala e porta-bandeira dançando ao som das peças que a vida prega. Ah meu belo amor de carnaval, não subimos a serra, o beijo do adeus já agradecia por si só, encerramos nosso desfile na alameda, ainda pensei em agradecer-te por me fazer sentir viva, desejada, por colocar meu sorriso novamente na avenida, mas deixei pra lá, a vida vai dar conta de eternizar nossa esquina na lembrança, enquanto seguimos desfilando em caminhos diferentes.

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